Antonio Tabucchi (1943-2012) é uma das vozes literárias influentes no século XX. Nascido em Itália, a sua ligação a Portugal e à língua portuguesa teve um papel fundamental no seu desenvolvimento intelectual como escritor, tradutor e acadêmico. Ele foi um especialista de literatura portuguesa e, em particular, da obra de Fernando Pessoa, cujos poemas ele traduziu para italiano.

Tabucchi descobriu ainda jovem a obra de Pessoa, nos anos 60, durante uma viagem a Paris. Foi neste momento crucial que ele decidiu investigar mais sobre a sua obra e dedicar-se ao estudo do português. Em 1965, chega a Lisboa para visitar a cidade e apaixonou-se pela ela, e aí permaneceu durante 47 anos, até à data da sua morte em 2012.

Tabucchi e Portugal¹

Em 1991, ele escreveu um romance em português – Réquiem: uma alucinação – o qual foi inspirado pelo Livro do Desassossego de Fernando Pessoa: Neste livro, o protagonista deambula por Lisboa durante um tórrido domingo de Julho num estado quase surreal, entre a realidade e o sonho. Ele passa pelos bairros históricos da cidade e, à meia noite, dá-se um encontro com o fantasma de Pessoa no Cais de Alcântara. Neste livro, Tabucchi demonstra-se um verdadeiro lisboeta, descrevendo com precisão as ruas, as praças, os bairros e até a gastronomia. É também por esta razão que este romance é considerado uma das suas maiores homenagens a Fernando Pessoa e à cidade de Lisboa.

O Museu do Oriente em Lisboa. Mencionado no romance, fica dois minutos a pé do Cais de Alcântara²

Tabucchi deixou um legado de cerca de 30 livros, entre os quais Portugal ou Pessoa foram várias vezes objeto de escrita. Neste âmbito, o seu livro mais famoso é, provavelmente, o romance escrito em italiano Sostiene Pereira (“Afirma Pereira”, Feltrinelli 1994) que ganhou prémios literários e foi reconhecido a nível europeu.

A capa do romance Sostiene Pereira³

A história é passada em Lisboa em 1938 durante o regime salazarista e o protagonista do livro é o Doutor Pereira, um jornalista simpatizante da ditadura. Por outro lado, o jovem jornalista Francesco Monteiro Rossi, de origem italiana, demonstra-se um apoiante das atividades revolucionárias na cidade. A influência do Francesco ajudará o velho Pereira a abrir os olhos e a reconhecer o clima de repressão e censura no país, vindo a cometer um ato de rebelião antes de fugir de Portugal.

Sostiene Pereira, além de mostrar o vasto conhecimento de Tabucchi sobre a história de Portugal, é, ao mesmo tempo, uma apologia à liberdade intelectual, à liberdade do pensamento e da imprensa e uma fervorosa crítica aos regimes ditatoriais, como foi o Estado Novo, que acorrentou a liberdade dos seus cidadãos.

Vídeo sugerido:
“António Tabucchi e António Mega Ferreira”: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/antonio-tabucchi-e-antonio-mega-ferreira/.

Filme sugerido:
Sostiene Pereira / Afirma Pereira. Roberto Faenza, 1996.

Livros sugeridos:
Os três últimos dias de Fernando Pessoa: Um delírio. Rocco, 1996.


[1] https://www.caffeorchidea.it/pt/lisbona-di-pessoa-e-tabucchi/.
[2] https://pontofinalmacau.wordpress.com/2018/03/20/programa-diversificado-no-duplo-aniversario-da-fundacao-oriente-e-museu-do-oriente/.
[3] https://www.lafeltrinelli.it/libri/sostiene-pereira/9788807892158.

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